Às vezes tenho medo de ser inocente demais e viver num mundo de Pollyana. Ainda assim, prefiro arriscar assumir tal condição do que compor os times das teorias conspiratórias, essas coisas tão antigas que ganharam nova roupagem e muito mais força com a popularização das redes sociais.
A internet veio pra difundir o conhecimento. Os espertalhões, porém, descobriram que o mesmo caminho serve para espalhar estupidez e com isso têm atingido considerável sucesso. O problema, parece-me, está no receptor que com tanta facilidade repassa elevados níveis e grande quantidade de besteira com a rapidez de um clique. Clique tão rápido que supera a velocidade do raciocínio.
A fim de comprovar que tal comportamento não é exclusividade de um dos polos políticos em que nossa população está dividida, trago dois exemplos:
O “viajante” de esquerda:
Cismaram os mais radicais à esquerda que a facada em Jair Bolsonaro não aconteceu. Tratou-se de um plano para mexer com o sentimento popular e influenciar as intenções de voto.
Embora o resultado eleitoral tenha sido parcialmente influenciado pelo fato, a teoria da facada falsa é completamente descabida, bastando um raciocínio simples. Será possível envolver tanta gente em um rolo desse tamanho? Você acredita mesmo que equipes médicas de mais de um hospital – cirurgiões, anestesistas, enfermeiros, diretores – topariam todos, em conjunto, tomar parte de uma fraude tão grande? Sem falar na polícia civil, polícia militar, polícia federal... É gente demais pra sequer nenhum deles desistir, discordar ou cometer uma inconfidência, ou não é?
Os pregadores da teoria aparecem com vídeos, fotos e dados analisados por supostos especialistas. Gente da categoria de quem questiona as viagens do homem à Lua. Ocorre que tais estudos não resistem a uma crítica um pouco mais aprofundada.
O “viajante de direita”:
A mais recente loucura desse lado é uma explicação para o incidente em Brumadinho: terroristas venezuelanos e cubanos explodiram a barragem com o objetivo claro de prejudicar o governo Bolsonaro. A Abin – Agência Brasileira de Inteligência – seria a fonte para tão espetacular descoberta.
Tal teoria surgiu no dia seguinte ao evento com base em – como sempre – nada.
Mesmo após negativa da própria Abin, os propagadores da conspiração insistem na afirmação. Vazia porém veloz e produtiva teoria conspiratória.
© 2009-2019. Todos direitos reservados a Gazeta do Oeste. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.