POR UMA REFORMA DO CAPITALISMO

Bruno Silva Quirino
Esta coluna é continuação da anterior, por isso sugiro que você dê uma olhadinha lá antes!
Entre os sistemas econômicos já testados na história, eu entendo que o capitalismo é o único que a gente pode corrigir para ser mantido. Eu, que na adolescência acreditei em utopias socialistas, hoje compreendo que o ser humano não tem evolução suficiente para tanto desprendimento (a criação de ditaduras que usaram o socialismo como meio nem entram nesse meu cálculo, pois essas são desvios, assim como há ditaduras capitalistas).
Eu reconheço os benefícios do sistema que domina o mundo atualmente. O incentivo à competição, a valorização da qualidade e do esforço são características fundamentais para o grau de desenvolvimento que atingimos.
Porém, parece que alimentamos demais o bicho. Deixamos que ele crescesse tão livre como uma criança mimada sem freios, adulada, incentivada a não ter limites e, quando aprontava, era sempre socorrida pelos pais (Poder Público, no caso) e jamais foi punida pelos vacilos.
Há dez anos eu estudo a pobreza, suas causas e possíveis soluções, de onde destaco os seguintes números relacionados ao assunto:
- 3 em cada 20 seres humanos vivem na miséria absoluta, com renda em torno de R$ 5,00 por dia (1 bilhão de pessoas).
- 4 em cada 10 pessoas possuem renda diária de até R$ 10,00. São 2,7 bilhões.
- Quando se sobe a renda para R$ 20,00 diários, o grupo chega a 4 bilhões.
Não me parece possível considerar virtuoso ou mesmo bem-sucedido um modelo econômico que obriga quase 60% da população mundial à condição de sobrevivência básica, sendo que mais de 1 bilhão entre eles não auferem renda suficiente sequer para o mínimo absoluto.
Um dos lemas dos mais fervorosos defensores do capitalismo sem regulação é a meritocracia, conceito segundo o qual todas as pessoas possuem as mesmas oportunidades e, portanto, a diferença entre Bill Gates e o mendigo da esquina é o tamanho do esforço de cada um.
Não precisa estudar tanto para verificar a invalidade da meritocracia onde um cidadão nasce em condições favoráveis e outro mal consegue ir à escola porque todo dia tem tiroteio na favela onde vive, sem falar naquele impossibilitado de aprender porque seu corpo não está nutrido o suficiente. Basta ler, por exemplo, “Fora de série”, de Malcolm Gladwell ou, mais especificamente na temática, “Criando um negócio social”, de Muhammad Yunus.
Também na concentração de renda nós encontramos razões para reformar o capitalismo. Ou será que podemos considerar normal o fato de 85 cidadãos concentrarem em suas mãos metade da riqueza da humanidade toda?
Há um movimento, ainda incipiente, de bilionários defendendo medidas para reduzir os excessos. Entre as tais estão o estabelecimento de renda mínima universal, a progressividade de impostos sobre herança e a taxação de grandes fortunas.
Acreditar sem críticas em qualquer coisa pode ser fanatismo ou oportunismo. Humanizar o capitalismo com objetivos de reduzir os abismos sociais e proteger o meio-ambiente com finalidade de prolongar a existência da humanidade não é ideia de comunista, conforme tantos pregam, é a própria defesa do capitalismo. Afinal, do que vale a manutenção sem mudanças de determinado sistema econômico se bilhões de pessoas são massacradas pelo excesso de um pequeniníssmo grupo ou se os processos atuais ameaçam a existência das próximas gerações, mesmo os mais ricos?
É óbvio que a pobreza faz mal para quem a ela está submetido. Já os prejuízos que ela causa ao rico costuma ser ignorada. Já imaginaram o quanto seria bom para comerciantes, empresários, profissionais liberais, governos etc., se os quase 3 bilhões de pobres fizessem parte do mercado consumidor?
Eu defendo a humanização do capitalismo, sem comprometer suas virtudes e garantindo oportunidades, se não iguais, por utópico que seja, menos divergentes para o topo e a base da pirâmide.