Minas Gerais

Cães dos bombeiros agilizam resgate e salvamento de vidas em Minas Gerais e em outros estados

Animais recebem treinamento minucioso, alimentação balanceada, cuidados médicos rigorosos e se aposentam após oito anos de atividades

Kyra, Chakal, Goku, Hera, Crhonos e Fênix. Estes heróis e heroínas não são atores, personagens de desenho animado e muito menos deuses ou deusas da mitologia grega, mas têm um papel fundamental no resgate e salvamento de vidas não só em Minas Gerais, mas também em outros estados. Eles fazem parte da matilha do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), com 26 cães utilizados nas operações de busca e salvamento, garantindo agilidade e efetividade nas ocorrências envolvendo pessoas desaparecidas em matas, escombros e até mesmo vítimas de homicídios, latrocínios e acidentes.

Escolhidos pela resistência, resiliência, agilidade e habilidades sensoriais, principalmente o olfato a audição e a visão, além de facilidade no aprendizado, os cães do Pelotão de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (PBRESC) passam por um longo período de treinamento, que pode durar de de um ano e meio a dois anos, quando são submetidos a exames de certificação para poderem então atuar nas ocorrências. 

Segundo o comandante do PBRESC, tenenete André Dutra, os cães são divididos em dois grupos, os treinados para buscar por odor específico e os que procuram por odor genérico.

“Nas ocorrências de pessoas perdidas em matas, que geralmente são a maior parte dos nossos atendimentos, é possível utilizar um cão que busque por um odor específico. Para isso, pegamos com os parentes da vítima algum pertence do ente desaparecido e oferecemos para o cão cheirar. A partir desse momento, o animal entende que está buscando apenas aquela pessoa especificamente, e nenhum outro odor tira o foco dele, até o encontro da vítima”, conta André Dutra.

Já para situações de desastres, como desmoronamentos, soterramentos, rompimentos de barragens, são usados os cães que são treinados para buscar por odor genérico. “Estes cães não têm a dica do que estão procurando, mas são treinados para entrar em um cenário de caos e procurar por pessoas. Alguns deles procuram apenas por pessoas vivas; outros por pessoas vivas, mas também por restos mortais e, por fim, têm ainda os que buscam apenas restos mortais ou cadáveres”, explica o oficial.

Tragédia em Brumadinho

A utilização de cães de busca ganhou mais relevância para as corporações militares após a tragédia do rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho, em 2019, quando mais de 270 pessoas perderam a vida. Os animais foram fundamentais para encontrar boa parte das vítimas que desapareceram em meio ao minério. Outra missão importante que os cães do CBMMG participaram foi em Petrópolis, onde enchentes e deslizamentos de terra mataram mais de 240 pessoas em fevereiro deste ano. 

“O faro e a audição aguçados são elementos que os fazem diferenciados para o trabalho de busca, e o fator tempo é crucial em tais operações, por isso, os cães são tão essenciais para essas atividades. No Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais os cães bombeiros passam por um treinamento específico que os habilita para atuar nas missões de busca”, enfatiza o capitão Lucas Silva Costa Silva, comandante da Companhia de Busca, Resgate e Salvamento com Cães.

Raças utilizadas

As raças de cães mais utililizadas para as atividades de busca do CBMMG são os pastores alemães, pastores belgas de malinois, labradores e border collies. “Recentemente temos investido na raça Bloodhound para a atividade de busca por odor específico, pelo seu faro impressionante”, conta André Dutra.

Os cães do CBMMG recebem também uma forte base de socialização. Eles têm que se habituar com outros animais, com as pessoas, perderem a sensibilidade a barulhos e a vários estímulos externos. Não podem também ter medo de altura, de água, de objetos, de pisos instáveis e de texturas desagradáveis. 

“À medida que o filhote vai ganhando confiança, vamos inserindo algumas dinâmicas para estimular seu interesse por brinquedos, que usaremos como recompensa para os treinamentos futuros. E aí seguem inúmeros detalhes minuciosos para formação de cada tipo de cão, mas que em resumo, aprendem a trabalhar para ganhar suas recompensas. Na verdade, quem trabalha somos nós, eles brincam de tentar ganhar o brinquedo. ”, conta o capitão Lucas Silva.

Cada cão é treinado apenas pelo bombeiro que será seu condutor, que também é capacitado para melhor se comunicar com os animais. A dupla é conhecida na corporação por binômio.

Cuidados com a saúde

Trimestralmente, os cães do CBMMG passam por avaliação criteriosa clínica e laboratorial. “A gente faz diversos exames dos animais como de sangue, fezes, urina para, caso apareça alguma alteração, dê tempo de intervir antes que o paciente adoeça. Às vezes, há uma manifestação laboratorial, que ainda não tem uma manifestação clínica”, conta o médico veterinário Willian Delecrodi Gomes, do CenterVet Hospital Veterinário, responsável pelos cuidados dos animais dos bombeiros e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Segundo ele, o condutor deve estar sempre atento também a qualquer alteração do animal, como de comportamento e está com uma característica diferente. Os cães também passam por todo um cuidado profilático, como o uso de coleiras para repelir o mosquito transmissor da leishmaniose, têm todas as vacinas em dia, além de vermifugação a cada três meses e o uso de medicamentos para controle de pulgas e carrapatos.

“O cachorro deu um espirro, está aqui na clínica. Eu sempre brinco, quem dera todo militar tivesse todos os cuidados que os cães têm”, disse Willian Delecrodi, lembrando que os animais que têm contato com algo novico à saúde deles, como chorume ou cadáver, por exemplo, são submetidos a uma nova avaliação para que sejam tomados todos os cuidados profiláticos por conta dessa operação.

O médico veterinário conta também que dieta dos cães é pesada e fracionada ao longo do dia, além de receberem rações super premium. “Caso um paciente apresente alguma alteração que necessite de dieta especial, como aconteceu recentemente com um dos cães, que teve pancreatite, a gente troca a dieta por uma de tratamento, para só depois retomar com a dieta padrão.

Aposentadoria

Assim como as pessoas, os cães também têm direito à aposentadoria após o trabalho realizado por oito anos. “Mesmo os cães ávidos por trabalho são aposentados e podem curtir a vida nas residências de seus tutores, fazendas ou mesmo em sítios”, conta o capitão Lucas Silva.
“A gente que trabalha há alguns anos com o cão de trabalho, tem a oportunidade de vivenciar que, da mesma forma que um militar bombeiro ou policial, que tem uma vida muito agitada, com muita adrenalina, quando se aposenta, tem dificuldade de conviver com aposentadoria por não ter mais toda aquela atividade. E temos notado isso também nos cães. Ele sentem muita falta dessa atividade, que para eles é uma brincadeira”, explica Willian Delecrodi.

“Alguns cães não se adaptam à atividade, ou se desgastam muito rápido. Quando isso acontece, para evitar o prejuízo para o animal e para a instituição, é feita a doação para um tutor que o receba em um ambiente mais compatível com suas características”, afirma Lucas Silva.

Casos de sucesso

O sargento Weleson Pereira Santos, adestrador do PBRESC há mais de 20 anos, conta que, na semana passada, em uma operação de apoio à Polícia Civil em Brumadinho, a cadela Kyra, uma pastora belga de malinois, conseguiu encontrar dentro de um das duas fossas no lote, um adolescente que estava desaparecido há quase dois anos.

“A princípio a cadela não se interessou, mas após fazer a retirada de mais ou menos um terço do resíduo de uma das fossas, os gases liberados pelo corpo foram sentidos pela cadela, que começou a latir, como se estivesse dizendo que o que a gente procurava estava realmente ali”, conta.

Em uma mata na região do bairro Durval de Barros, onde uma adolescente de 15 a 16 aos estava desaparecida há oito meses, um dos cães do CBMMG conseguiu encontrar os restos mortais recentemente. 

“A gente já tinha ido lá umas cinco vezes em apoio à Polícia Civil. Desta última vez, quando a gente desceu uma trilha, o cachorro começou a latir em um determinado local. Voltamos lá e era onde estava os restos mortais da menina”, lembra.

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