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Comida Santa está na mesa

Aqui em Conceição do Pará estamos às vésperas do Comida Santa, o festival gastronômico que coloca em evidência os alimentos presentes nos textos bíblicos. Para você não perder esse maná dos deuses, anote aí na sua agenda: dias 1° e 02 de julho, na Praça da Matriz, a partir das 19 horas.

– Uai!  Mas tá esquisito. Vi que tem sushi no cardápio do Comida Santa. No tempo de Jesus se comia sushi? 

Não, não se comia o peixe cru naquela época. Mas o peixe fazia parte do cardápio.  Eduardo Machado escreveu um texto delicioso sobre a relação da fé com a comida. Em “Teogastronomia”, “ele nos lembra que Jesus saboreava de tudo que lhe serviam, sem discriminar ou rejeitar nada ou ninguém. Acolhia. “São Paulo vai se lembrar disso quando escreve aos Tessalonicenses: “Prova de tudo e retém o que é bom”.

O bom-gosto de Jesus, prossegue Eduardo em seu texto delicioso, tem tudo a ver com uma mestre-cuca preciosa: Maria. “Insistem em fazê-la rainha, mas eu elevo minha prece à Nossa Senhora da Sagrada Cozinha! Rogai por nós.”

Em outro trecho, Eduardo acredita que foi inspirado nas lembranças da cozinha da casa de Nazaré, que Jesus começou e terminou sua vida pública em torno de uma mesa. “De Caná, onde fez o milagre de inventar a ‘saideira’, até as margens do Mar da Galileia, já ressuscitado, onde prepara uma refeição para seus amigos que pescavam; “quando os discípulos chegaram à praia viram Jesus ao lado de um braseiro onde havia peixe e pão”…

Não sei vocês, mas tô com o Eduardo. O modo de preparar, servir e saborear o alimento tem a ver com nosso jeito de pensar e agir no dia a dia, inclusive com a nossa espiritualidade.  Como exemplo, Machado cita o nosso mexidão, prato preparado com as sobras do almoço, misturadas e enfarinhadas. Aqui em casa, pra melhorar ainda mais o que já é bom, ainda vai um ovo estrelado por cima e uma pimentinha pra despertar o paladar. Cebolinha e salsa também.  Hummm! Trem bão demais da conta, né mesmo?

Sei que você deve estar aí se perguntando:

– Mas, valha-me Deus! O que tem a ver o mexidão com a nossa fé?

É que, alerta Eduardo, muita gente faz o mesmo com a fé. “Como numa quermesse, ou num supermercado, vai passando de barraquinha em barraquinha, de gôndola em gôndola, de religião em religião, pegando só o que lhe interessa ao paladar. No final, temos um mexidão espiritual.”

Dito tudo isso, o que seria da Boa Nova sem a mesa e os alimentos sobre ela?

“É o lugar e a metáfora mais presentes nas palavras e gestos de Jesus. Caná, a mesa na casa de Simão e tantas outras, pães e peixes multiplicados e compartilhados em abundância, a ceia eucarística, a promessa do banquete do Reino, aqui e agora. O Reino, afinal, já está entre nós.

Não sei você, mas eu cozinho como quem reza. Vejo e sinto o sagrado em tudo que colho, corto, refogo, mexo e levo ao fogo. É assim também na casa do Eduardo. Das mãos da sua mãe saem sacramentos. “Na sua pequena cozinha, feita com farinha, ovos, temperos, fermentos, uma simples macarronada se faz banquete do reino para seus filhos, netos, bisneto, os muitos agregados e quem mais chegar. E sempre foi assim. A porta da cozinha estava sempre aberta (…) a Trindade não está num trono, mas à mesa, compartilhando vida com a Criação.

Entre a mesa da minha casa e a mesa da eucaristia, Deus é, porque precisou ser para ser amor, família reunida num almoço de domingo. Esteja servido!

Gisele Bicalho

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