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MADURO REVIVE GALTIERI

Bruno Silva Quirino

Os extremos ideológicos na política são péssimos e, quando no comando, são arrasadores: destroem a economia, reduzem a liberdade, enfraquecem ou acabam com o sistema democrático, perseguem os inimigos de diversas maneiras. À esquerda ou à direita, ditaduras são doenças sociais gravíssimas e, mesmo quando curadas, deixam sequelas.

Em 1982, a Argentina vivia sob uma ditadura militar, declaradamente de direita.

Nossos vizinhos viviam uma situação econômica terrível. A dívida externa passava de 20 bilhões de dólares, a valores da época. Era o início da chamada “década perdida” e a Argentina era um dos precursores da história terrível da economia mundial dos anos 1980.

Problemas econômicos, quando duram longo prazo, geralmente levam a transtornos sociais e, por consequência, derrubam a popularidade dos governantes.

Leopoldo Galtieri, o general que ocupava a presidência da Argentina à época, precisava recuperar seu prestígio. No manual do ditador, há alguns remédios perfeitos para unir a população em torno do salvador, todos envolvendo paixões nacionais. Um deles é o esporte, outro, a soberania, a pátria.

A Copa do Mundo de futebol de 1978 serviu bem a tais propósitos. Argentina campeã, povo amansado.

Em 1982, esse torpor havia passado. A fome, a violência e outras consequências de um governo ditatorial e ruim de serviço chamavam o povo ao questionamento.

Galtieri sacou a segunda carta: guerra. Afinal, guerra incendeia o sentimento patriótico. Era a última chance para a ditadura sanguinária se manter viva.

Assim, o general meteu seu país numa luta estúpida contra a Inglaterra, sob a justificativa de retomar um território ao sul, ocupado por ingleses. Era o início da Guerra das Malvinas, ou Falkand, como diziam os europeus. Guerra perdida desde o início, com objetivo único de moldar a opinião pública em torno do general ditador.

Mais de quarenta anos depois, um ditador de esquerda repete seu colega de direita. Nicolas Maduro, embora não porte patente militar, mimetiza um general, tanto nas vestimentas quanto nas atitudes.

Maduro preside a Venezuela há dez anos, período em que vem cumprindo religiosamente o Manual do Ditador Moderno, aquele em que os regimes autoritários não são implantados com armas e tanques, mas com a implosão das instituições.

A democracia venezuelana não foi morta num dia, como a nossa naquele 31 de março de 1964. A coisa se deu aos poucos, via cassação de concessões de TV e, ora, vejam só, alterações nas mais altas Cortes de Justiça.

A Venezuela, embora riquíssima em petróleo, vive uma situação econômica deplorável que leva grande parte de sua população a fugir em busca de sobrevivência. A ditadura enfrenta reação popular.

Diante da impopularidade, Nicolas Maduro saca da manga, acreditem, o Tratado de Tordesilhas, aquele lá do século XV que dividiu o planeta na metade, distribuindo um lado para Portugal, outro para a Espanha.

Com isso, Maduro resolveu requerer um pedaço da Guiana, país vizinho. Para tanto, promete guerra, obediente que é ao Manual do Ditador.

São histórias muito semelhantes, embora separadas por quatro décadas.

No caso argentino, um general ditador de direita inventa uma guerra para sustentar seu governo.

No episódio venezuelano, o general sem patente provoca o sentimento patriótico do povo com uma ameaça de guerra, com a mesma finalidade do seu colega.

Seja Galtieri, seja Maduro, o importante é a gente compreender o quão desastroso é viver sob ditadura.

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