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Renovar frota e carro de entrada dependem de renúncias fiscais

Fernando Calmon

Balanço de vendas, produção e exportação de veículos leves e pesados no primeiro trimestre mostra que este ano pode ser mais desafiador do que as projeções iniciais. A análise isolada do mesmo período, comparando 2023 e 2022, dá a falsa impressão de recuperação. As vendas de 471.800 unidades cresceram 16,3%, enquanto a produção atingiu 536.000 unidades (avanço de 8%).

O problema é que a referência com 2022 foi influenciada por uma base comparativa muito baixa, quando houve um período de paralisação nas fábricas por falta aguda de componentes eletrônicos. Em relação ao primeiro trimestre de 2021, por exemplo, a comercialização deste ano está 21% abaixo.

Em consequência deste cenário, no primeiro trimestre de 2023 oito fábricas deram férias não programadas e o mês de março foi “salvo” por entregas às locadoras. Como o movimento de compradores nas concessionárias ficou bem abaixo do esperado, essa estratégia permitiu que os estoques nos pátios subissem relativamente pouco: de 29 para 31 dias. Mas continuam muito elevados para a demanda atual.

A Anfavea, ainda assim, acha cedo para rever suas projeções, bastante modestas, de evolução de 3% nas vendas sobre 2022 em razão de juros altos e crédito curto. Há duas possíveis atenuantes que poderiam salvar o ano. Uma é criar o carro “verde” de entrada que algumas marcas sugerem ao Governo Federal. A outra seria ampliar o programa de renovação de frotas aprovado para caminhões e ônibus, em 2022, estendendo-o agora para veículos leves.

A entidade dos fabricantes não deu aval à primeira proposta pois nem todas as associadas concordam com a estratégia que beneficiaria poucas marcas. Os otimistas acham que renúncia fiscal e simplificação de equipamentos – mantendo itens de segurança e emissões – poderia baixar preços sugeridos para a faixa de R$ 50.000. Hoje os dois modelos (Kwid e Mobi) mais em conta ficam em torno de R$ 70.000. Essa é uma equação muito difícil de fechar, como já comentei, pois o carro “pelado” de 1993 hoje custaria R$ 80.000 com a correção inflacionária.

Quanto à renovação de frota, um mote de maior alcance, também depende de incentivos que, segundo o ministro da Fazenda, estariam previstos com fundos advindos da taxação extra sobre empresas de exploração de petróleo. Acontece que os Estados também querem sua parte. Precisaria haver alguma “sobra” para veículos pesados e inclusão dos leves.

Outra associação, a Abeifa, que reúne importadores e algumas marcas que também têm ou terão produção nacional, sugere que imposto de importação sobre veículos elétricos, hoje zerado, passasse a ser cobrado a um ritmo de 2% a cada ano até atingir 20% em 10 anos. Isso poderia motivar a produção local, mas a ideia não foi bem recebida. Mesmo porque o investimento, que incluiria custosas fábricas de baterias, seria inviável para uma procura tão baixa durante muito anos.

Novas picapes médias no segundo semestre

Ainda sem data exata, mas possivelmente em outubro, a nova Ranger está na reta final para lançamento na Argentina e quase simultaneamente no Brasil. A picape média é conhecida desde o final de 2021 quando foi apresentada na Austrália, responsável pelo projeto, e está à venda nos EUA, Europa e Ásia desde o ano passado. O produto recebeu grandes aperfeiçoamentos em relação à geração atual e a Ford investiu US$ 580 milhões (R$ 2,9 bilhões) na modernização da fábrica de General Pacheco, na Grande Buenos Aires.

Há pouco dias anunciou um aporte adicional de US$ 80 milhões (R$ 400 milhões) para produção de motores Diesel, sem adiantar suas especificações (há versões de 150 cv e 170 cv).

Em outros mercados estará à venda a nova Amarok que tem por base a nova Ranger. Mas a Amarok produzida na Argentina (numa fábrica vizinha de muro com a da Ford) e exportada para o Brasil nada tem a ver com o mesmo modelo lançado agora na Europa. O modelo da VW que receberá retoques de estilo, mas sem o chassi novo, estreia aqui só no primeiro semestre de 2024.

Também neste segundo semestre será lançada a picape Ram, produzida com carroceria de monobloco alongado da Toro na fábrica pernambucana de Goiana. Esse projeto avançou com celeridade para disputar mercado com Hilux, S10, Ranger, L200 Triton, Frontier e Amarok. A lógica indicava que se chamaria Ram 1200, porém o site Autossegredos revelou que será outro: Ram Rampage (Alvoroço, em inglês). O nome foi usado pela Dodge nos EUA numa picape derivada de automóvel entre 1982 e 1984.

Além deste lançamento, a Stellantis terá também a Landtrek com o tradicional chassi tipo escada atualmente montada no Uruguai e que aqui será lançada com a marca Fiat e não Peugeot.

ALTA RODA

-Audi Q3 Sportback Performance Black atende quem procura um SUV de dimensões contidas (4.500 mm de comprimento e 2.680 mm de entre-eixos) e com desempenho que o Q3 antes ficava devendo. Agora o motor 2-litros turbo (gasolina) entrega 231 cv e 34,7 kgf.m e mesmo com o peso adicional da tração quattro (4×4 sob demanda) apresenta respostas muito boas e comportamento em curvas exemplar em especial ao se considerar que as especificações para o Brasil elevaram a altura de rodagem em 18,5 mm na dianteira e 13,5 mm na traseira.

Curvatura do teto na área da coluna traseira pode incomodar pessoas mais altas no banco traseiro, mas como este é corrediço o espaço para pernas favorece o conforto. O porta-malas garante ótimo volume de até 530 litros. O acabamento do habitáculo segue o padrão Audi com materiais de alta qualidade. Para o motorista o banco tem firmeza e apoios corretos, além de regulagens elétricas que incluem rebatimento dos espelhos externos. Tela multimídia de 8,4 pol. oferece ótima resolução, mas poderia ser um pouco maior.

-DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres) continuará sendo administrado em 2023 pela Caixa Econômica Federal (CEF), de acordo com a lei promulgada no último dia 5. Segundo a Agência Câmera Notícias, “a escolha da CEF pelo Governo Federal decorre do seu porte, capilaridade e experiência em operações de pagamentos de maior complexidade”. Entretanto isto não é tão importante quanto saber quando o seguro voltará a ser cobrado e seu preço. O DPVAT existe desde 1974 e indeniza vítimas de acidentes de trânsito. O fundo de ressarcimento deve acabar este ano e não se observa qualquer movimento explícito para estabelecer o custo do DPVAT para cada proprietário, possivelmente em 2024. O assunto não comporta improvisação e já deveria estar sendo discutido.

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