Viagem ao inconsciente.

Chūnibyō é um termo japonês que se traduz como “doença do segundo grau” ou “síndrome da oitava série”, usado para descrever adolescentes que têm megalomania, que querem tanto se destacar que se convencem de que escondem conhecimentos ou poderes secretos.

Tentando limpar meu computador de arquivos antigos, achei um episódio de um anime que conta a história de dois jovens assim. Em certo momento, quando a menina está triste e não se sente nada especial, seu amigo lhe convida a dizer as palavras mágicas que os transportam para o seu mundo fantástico, onde tudo faz sentido. Lá ela consegue catalisar as emoções da perda do seu pai, consegue sentir a natureza e a amizade dos dois como um bálsamo para suas dores e, principalmente, ter consciência de quem é, fora das relações corriqueiras do dia a dia.

Me vi naquela menina, na medida em que buscava em mim algo que meu filho definiu como um defeito que não seria bem um defeito, se usado da maneira correta. Ou uma qualidade que o afetava como defeito. Não sei bem. Sei que me vi no meu mundo delirantemente belo, tentando me adaptar a um mundo cruelmente normal, onde a regra é atirar primeiro. É chegar primeiro, é matar primeiro.                                                         

“Mas será que podemos nos livrar do nosso lado maluco e fantasias estranhas? De quando pensávamos que éramos especiais e que tinha algo maior nos observando? Às vezes as pessoas mentem, imaginam um mundo mágico, sonham com um futuro diferente. Este processo se repete desde o dia em que nascemos até o dia em que morremos. É uma doença conhecida como consciência. Uma coisa que a gente deve enfrentar, conhecida como nós mesmos”, diz o protagonista.   

Guiomar é jornalista e locutora do Vozes de Minas: www.vozesdeminas.com.br/voz/guiomarcastro