Artigos

A entrega de Cristo

Ômar Souki

A procissão da Via Sacra iria passar em frente ao nosso prédio. Ali seria contemplada a nona estação, isto é, o momento em que Jesus cai pela terceira vez. Uma vizinha sugeriu para Rejane, minha esposa, e para mim que montássemos um pequeno altar no passeio: uma mesa, um quadro da nona estação, uma vela e dois vasos de flores. Ali ficamos esperando até que chegou a procissão: um padre, dois seminaristas, mais cerca de cinquenta fiéis. O sacerdote falou algumas palavras e nos agradeceu por marcar presença naquele local. Na internet encontrei a seguinte reflexão sobre esse doloroso momento: “As suas quedas pertencem ao mistério da sua encarnação. Procurou-nos na nossa debilidade, descendo até ao fundo dela para nos elevar até Ele. Mostrou-nos em si mesmo o caminho da humildade, para nos abrir o caminho do regresso. Ensinou-nos a paciência como arma para vencer o mundo. Agora, caído no chão pela terceira vez, enquanto se compadece das nossas fraquezas, indica-nos o modo para não sucumbir na provação: perseverar, permanecer firmes e inabaláveis. Simplesmente: permanecer n’Ele” (vatican.va).  

Santo Afonso de Ligório, citando Isaías, fala da entrega de Cristo: “Falando do amor que o Filho de Deus consagra ao homem, notemos que, vendo, de um lado, o homem perdido pelo pecado e, de outro, a justiça de Deus que exigia inteira satisfação pela ofensa recebida do ser humano, que não estava em condições de a dar, ofereceu-se espontaneamente a satisfazê-la pela humanidade. […] Como um humilde cordeiro, se submete aos carnífices, permitindo-lhes que lhe dilacerem as carnes e o conduzam a morte, sem se lamentar nem abrir a boca, como já estava predito: ‘Será levado como uma ovelha ao matadouro, e, como um cordeiro diante do que o tosquia, emudecerá e não abrirá a boca’ (Isaías 53, 7)” (A paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, p. 305).

Como foi possível que Isaías há 700 anos antes de Cristo conseguisse prever esse transcendental acontecimento? A explicação ultrapassa a lógica e entra no sobrenatural. O profeta foi inspirado pelo Espírito Santo a descrever com incrível exatidão o mistério da entrega de Jesus pela salvação da humanidade: “Foi preso, julgado injustamente; e quem se preocupou com a vida dele? Pois foi cortado da terra dos vivos e ferido de morte por causa da revolta do meu povo. […]  Por meio dele, o projeto do Senhor triunfará. Pelas amarguras suportadas, ele verá a luz e ficará saciado. Pelo seu conhecimento, o meu servo justo devolverá a muitos a verdadeira justiça, pois carregou o crime deles. […] Carregou os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores” (Isaías 53, 8, 10 e 12).

Leia mais

Naquela mesma sexta-feira, às 15h00 fomos à igreja para reviver a paixão. Foram feitas as leituras referentes à prisão, ao julgamento, à crucifixão e a morte de Jesus. Foi para nós, um dia de total imersão nesse portentoso mistério. O crime cometido contra Deus só poderia ser expiado pelo próprio Deus feito homem. Eu me pergunto, então: “Frente à entrega de Jesus, qual deve ser a nossa resposta?”.  

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo

Bloqueador de Anúncio Detectado

Nosso conteúdo é gratuito e o faturamento do nosso portal é proveniente de anúncios. Desabilite o seu bloqueador de anúncios para ter acesso ao conteúdo do Portal G37.